O primeiro trimestre do bebé | De Mãe para Mãe

Está aqui

O primeiro trimestre do bebé

De Mãe para Mãe_O primeiro trimestre do bebé

Conquista a conquista, o bebé prepara o futuro

Daniela Araújo, Fisioterapeuta


As experiências que o bebé tem no primeiro ano de vida influenciam muito as competências que desenvolve nesse período, mas essas experiências influenciam e condicionam, também, competências futuras muito importantes.


Sabia que… enquanto o bebé brinca de barriga para baixo, nos primeiros 9 meses de vida, está a preparar competências futuras, tais como a escrita?

As pequenas conquistas que vamos observando no bebé dependem de competências que ele adquire ao relacionar estímulos que recebe dos diferentes sistemas e que lhe permitem organizar uma resposta, que vai sendo modificada e aperfeiçoada mediante o seu nível de sucesso. A aprendizagem depende, assim, desta tentativa-erro, da oportunidade para experienciar. E quando o bebé é muito pequeno, essa oportunidade depende de nós, de criarmos momentos em que o ambiente facilita essa aprendizagem.

Pequenos hábitos introduzidos na rotina do bebé desde cedo são fundamentais para promover o seu desenvolvimento sensório-motor. O bebé aprende enquanto come e muda a fralda, enquanto toma banho e brinca. Em todos estes momentos, é posicionado de determinada forma, sente movimentos, toques e outros estímulos (visuais e auditivos) que os completam. A ideia é tornar estas experiências mais ricas, sem esquecer que nem sempre mais é melhor!


Os primeiros 3 meses do bebé

Quando nasce, o bebé necessita, acima de tudo, de um ambiente organizado. Apresenta a flexão que vivenciou in utero, mantendo o tronco e os membros fletidos, sentindo-se alguma resistência ao fazer a extensão dos membros. Durante os três primeiros meses, fica progressivamente mais móvel e alerta. Consegue, ao longo dos primeiros meses, levar as mãos ao centro, tocando-se, alcançando um brinquedo ou levando-as à boca (o que contribui para o conhecimento do seu corpo, se autorregular emocionalmente e organizar as sensações intraorais). Consegue ainda, progressivamente, segurar a cabeça alinhada, levantando-a da superfície quando está deitado de barriga para baixo, apoiado sobre os antebraços.


Estratégias simples para potenciar o seu desenvolvimento ao longo das rotinas

  • No colo:
  • Quando segurar o bebé no colo, dê suporte à cabeça e evite colocar o braço do bebé que está mais perto de si lateralmente ao seu tronco (para “trás de si”) - o tronco do bebé fica assimétrico e o braço pendente. Dê preferência a pegar no bebé com os braços junto ao corpo dele, aproximando as suas mãos anteriormente no tronco. Este cuidado é mais relevante quando alimenta o bebé com biberão, é importante manter o bebé ligeiramente fletido (cabeça e tronco) e não completamente deitado para facilitar sugar e deglutir o leite.
    Tipicamente, os bebés gostam de ser levantados muito cedo, quando ainda não têm competências motoras para o fazerem de forma adequada - os estímulos que os rodeiam são interessantes e deitados ficam limitados. Inicialmente esses posicionamentos muito verticais devem ser restringidos aos estritamente necessários e sempre com suporte da cabeça.


  • Na muda da fralda, ao vestir e despir:
  • Ocorre inúmeras vezes ao longo do dia, dá muitas experiências sensoriomotoras ao bebé, uma vez que implica movimento de determinadas partes do corpo, transferências do seu peso na base de suporte ou sobre si próprio e é um excelente momento para a interação com o bebé.

    1. É importante que esteja calmo e num alinhamento adequado. Se é um bebé que se estica, uma opção é utilizar uma fraldinha ou toalha pequena dobrada sob a cabeça e ombros, o que permite orientar a cabeça para flexão e manter o contacto ocular com o adulto e os estímulos que vão ocorrendo.
    2. A muda da fralda implica mover as pernas do bebé sobre o tronco (transferindo o seu peso e encurtando os abdominais, que facilitam a atividade e estabilidade do tronco). Por vezes, são realizados movimentos diagonais para conseguir limpar bem o rabinho e as costas - é importante que sejam feitos para ambos os lados, para que o bebé sinta o peso na diagonal em direção a cada um dos ombros.
    3. O vestir/despir envolve, mais ainda, movimento do seu corpo, pelo que é fundamental mover devagar e ir orientando o movimento com algum estímulo visual e/ou auditivo, para se organizar. Deve ter em atenção para não alongar demasiado as estruturas frágeis (exemplo: segurar a mão fechada e mover a roupa em relação ao braço para evitar esticar os dedinhos).
    4. Esta é, também, uma boa oportunidade para colocar o bebé de barriga para baixo. Coloque algum estímulo para focar a sua atenção, podendo dar-se um apoio no fundo das costas para facilitar o levantar da cabeça.


    • A brincar de barriga para cima:
    • É importante que o bebé sinta o seu corpo sobre uma superfície estável (não demasiado mole) que permita mover umas partes do corpo enquanto mantém outras estáveis. O tronco, pousado sobre a superfície, permite o movimento da cabeça, o elevar dos braços para tocar num brinquedo, o movimento das pernas, cada vez mais vigorosamente. O estímulo visual/auditivo deve estar posicionado no centro, ligeiramente inferior à linha do olhar e possível de alcançar.

      Nota: Se o bebe fica muito esticado, tem dificuldade em elevar os braços da superfície ou fica desalinhado, fazer um rolo com um toalhão e criar um “ninho” pode ser uma opção interessante para o manter mais ativo e confortável.

      Uma alternativa passa por deitar o bebé de barriga para cima, voltado para si, sobre as suas coxas, colocando o rabinho do bebé mais próximo do seu tronco e as pernas repousando sobre este. Envolva com os seus braços o bebé, trazendo os braços dele ao centro e, progressivamente, brincando a tocar uma mão na outra, na sua face (…). Quanto mais fletir os seus joelhos, mais eleva o bebé – numa fase inicial o bebé não deve estar demasiado elevado.

      O posicionamento em equipamentos como cadeiras e espreguiçadeiras é uma alternativa (sem descartar a experiência de ficar deitado sobre uma superfície horizontal), mas a opção deve permitir reclinação e ser estável mas confortável (para que permita o movimento organizado do bebé - evite as que não têm revestimento estável (só pano). Deve ajustar-se ao tamanho do bebé (evitando ficar desalinhado), podendo recorrer-se a um redutor ou uma toalha para esse efeito. E que se cumpra uma regra muito importante: não deixar o bebé muito tempo num determinado posicionamento.


    • A brincar de barriga para baixo:
    • Sempre sob supervisão, principalmente enquanto o bebé não consegue elevar e rodar a cabeça da superfície de forma autónoma. Este posicionamento para além de lhe dar sensações importantes do seu próprio corpo, ajuda a potenciar a estabilidade dos ombros e tronco, fundamental para competências futuras.

      São poucos os bebés que gostam desta posição, na sua maioria porque não estão habituados e sensorialmente não estão tão preparados para essa sensação. A não ser que o bebé tenha alguma contraindicação médica para estar nesta posição, deve, desde cedo, experienciá-la.

      Enquanto não consegue levantar e segurar bem a cabeça é importante colocá-lo com a cabeça rodada para um dos lados e ir alternando o lado; os antebraços do bebé devem estar apoiados na superfície na zona dos ombros; a nossa mão no fundo das costas pode ajudar a dar estabilidade; um estímulo colocado anteriormente é fundamental para que permaneça “entretido”. Uma boa sugestão alternativa inicial, principalmente para os que não toleram bem esta posição é deitar o bebé sobre o seu peito.


    Dar oportunidade ao bebé para aprender e experienciar, em diferentes momentos, com quem lhe proporciona maior conforto e confiança, é vantajoso para ambos. As rotinas do bebé são ricas em estímulos e um momento oportuno para a interação com ele – aliar a aprendizagem ao momento de criação de laços é o dois em um perfeito! Boas conquistas!


    Artigo publicado originalmente em abril de 2020, na edição #02 da Revista De Mãe para Mãe.