A razão pela qual me separei do meu primeiro marido e pai da minha filha foi o facto de que deixámos de conseguir dialogar e perdemos o respeito pela beleza um do outro. Mas ainda mais no fundo foi o facto de não conseguirmos encontrar uma plataforma justa de divisão de tarefas.
Eu lido mesmo mal com isso.
Ontem tive a primeira discussão com o meu actual marido por causa disto. E fiquei com o coração mesmo pequenino. Vai acontecer tudo outra vez, as mesmas frases, o mesmo olhar... aflitivo.
A frase mágica:
-Tens de me dizer o que precisas, eu não adivinho.
Será cultural, será o que quiserem, mas não deixa de estar errado e ser injusto por isso.
Eu chego a casa e sei que é necessário fazer coisas e nem me lembro de me sentar a ver tv. Sei que é preciso ver se as crianças têm o necessário em cada hoje, sei que é preciso ver como precaver que as próximas horas decorram bem...
Será que há roupa que seja preciso lavar? Será que há biberons esterilizados, será que as crianças precisam de um leitinho quente antes de dormir? Será que...
Olho à volta e as coisas por fazer pulam por todo o lado.
Um homem chega à mesma casa e pensa:
-Estou cansado. Vou-me sentar a ver tv.
E isto irrita-me.
E eu vou lá e digo:
- Francamente... então eu chego a casa cansada e tenho que fazer tudo sozinha?
- Então, sabia lá que querias ajuda! Tens de me dizer o que precisas.
Estão a perceber?
Isto é estúpido.
E eu fiquei cheia de raiva. Tinha a bebé em prantos, disse que ia fazer um biberon, e esta foi a deixa para ele pensar que eu tinha tudo controlado e que podia sentar-se a descansar.
Claro que cheguei cá abaixo, não havia biberons esterilizados, a bebé a chorar-me imenso no colo, pousei-a no carrinho, chorou ainda mais, os biberons levam 5 minutos a ficar em condições e... choro, choro,..
Bolas!
Não era melhor um dar um colinho, enquanto o outro fazia isto dos biberons??
E eu danada disse que ia fazer o mesmo. Ia sentar-me no meu computador e se ele precisasse de ajuda que me dissesse. Ficou furioso e disse que esta técnica com ele não funciona.
E eu perguntei: Então, qual funciona??
Isto não está certo.
Uma casa dá trabalho, uma família dá trabalho e eu quis isso. Mas quis isso com alguém, porque se fosse sozinha eu tería dito logo que era inviável.
Quando um homem vive sozinho, faz as suas coisas. Sabe o que precisa de ser feito e pode decidir fazer ou não, mas sabe que há coisas para fazer.
Estes homens que vivem com uma mulher, de repente precisam que lhes seja dito o que fazer.
Depois tornamo-nos as mãezinhas. Depois começamos a ficar sozinhas, irritadiças e mandonas.
Ou então fazemos tudo e até lhes pomos uma banqueta debaixo dos pés.
Ou podemos mesmo levar um jornal e umas chinelas na boca.
O problema é o respeito. Vai-se. O respeito próprio que sinto é o mesmo que sinto por ele. E é a razão pela qual não admito esta situação.
Eu não preciso de ajuda. Eu só espero que cada um cumpra a sua parte. E não sou eu que tenho de dizer o que há a ser feito.~
Quem quer fazer alguma coisa olha à volta e coisas por fazer não faltam.
Essa do tens de me dizer o que precisas é uma treta para ganhar tempo. Porque assim se não estivermos sempre a dar ordens, eles podem aproveitar para ir coçar as costas e esta história tem gerações de desculpabilização por trás. Mas para mim... é mesmo insuportável!