O impacto da alimentação no desenvolvimento infantil | De Mãe para Mãe

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O impacto da alimentação no desenvolvimento infantil

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Inês Martins Mota, NutricionistaInês Martins Mota, Nutricionista


É provável que não exista momento mais fundamental na nutrição do que os primeiros 1000 dias de vida do bebé (desde a sua gestação até aos 2 anos de idade). Já durante a gravidez, a alimentação tem um papel preponderante no futuro do bebé e a sua importância não diminui após o nascimento. A influência da nutrição na saúde e no desenvolvimento do bebé e do futuro adulto é extraordinária.


O padrão alimentar do bebé molda o crescimento a curto, médio e longo prazo. Nestes primeiros 1000 dias de vida, é determinante para acompanhar o crescimento impressionante dos bebés (nos primeiros 6 meses, o bebé duplicará o peso; nos 12 meses, triplicará) e amadurecer os sistemas nervoso e imunológico. Mas não só; é também decisivo no futuro, desde a sua aptidão física e desempenho escolar à diminuição de risco de desenvolver doenças crónicas em adulto (como diabetes tipo I e II ou doenças cardiovasculares).

Esta fase inicial da vida envolve, também, processos de alimentação distintos, iniciando-se pela fase lactente até ao momento de diversificação alimentar.

É fundamental destacar a importância da amamentação. Recomendada de forma exclusiva até aos 6 meses de vida, apresenta vantagens anti-infecciosas, imunológicas, cognitivas e afetivas. Estudos comprovam que o aleitamento materno reduz o risco de várias doenças (desde otite média, diabetes, obesidade, asma, e até leucemia, entre outras) e contribui, ainda, para o reforço da visão e do sistema imunitário, para uma flora intestinal saudável e para a prevenção de alergias. Mesmo em circunstâncias em que o período de amamentação tenha de ser menor, o aleitamento parcial apresenta efeitos benéficos. No fundo, a amamentação torna-se num momento de afeto e proteção entre a mãe e o seu bebé.

A transição da amamentação exclusiva para a introdução e diversificação de alimentos pode ser o terror para muitos pais, mas é tão fundamental para o desenvolvimento quanto o aleitamento. À medida que o bebé vai crescendo, as suas necessidades nutricionais aumentam e o leite deixa de as suprir. Além disso, a introdução dos alimentos e a iniciação de uma rotina alimentar têm um papel importante na motricidade do bebé, no desenvolvimento de hábitos saudáveis que o acompanharão para toda a vida, na estimulação do apetite, na procura de novos paladares e texturas, e no próprio comportamento do bebé (e futuro adulto) face à alimentação e às refeições. Podem parecer fatores mais secundários face a outros acima referidos, como a proteção contra doenças bastante preocupantes, mas não podia ser uma observação mais incorreta; o desenvolvimento de uma relação benéfica do bebé com os alimentos moldará hábitos que influenciarão a sua saúde e até a sua própria relação familiar e social.

De Mãe para Mãe O Impacto da Alimentação no Desenvolvimento Infantil

Outros fatores que, cada vez mais, têm suscitado preocupação na comunidade pediátrica são o sobrepeso e obesidade infantil. São as doenças nutricionais pediátricas mais prevalentes a nível mundial e está comprovado que apresentam uma forte relação com complicações de saúde na idade adulta. As razões são mais do que conhecidas: as más escolhas e ofertas alimentares (e o predomínio das mesmas) e o ambiente e comportamento dos familiares que influenciam os hábitos da criança. A solução é simples, até porque estamos a falar de seres humanos que começam agora a treinar o paladar: ter atenção aos alimentos que oferecemos, especialmente os doces ou com adição de sal, e ao que comemos em frente aos bebés (não subestimemos as suas capacidades de observação e a sua natureza curiosa).


A nutrição é, de facto, fundamental para o desenvolvimento saudável do bebé, mas não tem de ser um fator dramático ou de preocupação. O bebé está do seu lado e não vai exigir grandes menus. E o acompanhamento médico e de nutrição asseguram que a caminhada está a seguir o rumo certo.

Manter os cuidados durante a gravidez, assegurar um período de amamentação e planear a diversificação alimentar são procedimentos mais práticos do que parecem e fazem a diferença na hora de manter os bebés fortes e saudáveis (as duas palavras que todos os pais orgulhosos gostam de ouvir sobre os seus filhotes).

Artigo publicado originalmente em abril de 2020, na edição #02 da Revista De Mãe para Mãe.

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