Filipa Sommerfelt Fernandes, Terapeuta de Sono Infantil
Um sono de qualidade é essencial para o desenvolvimento e crescimento das crianças. A capacidade de dormir é aprendida e ajuda à manutenção da saúde, ao crescimento e ao correto desenvolvimento cognitivo dos nossos pequeninos.
Sabiam que, enquanto as crianças dormem, liberta-se a hormona do crescimento, que é responsável pelo crescimento e desenvolvimento físico normal?
Um sono reparador tem também enormes benefícios ao nível do cérebro dos mais pequenos, ajudando a que se concentrem mais, sejam mais resilientes na aprendizagem e se mantenham mais atentos. Além de tudo isso, o sono ajuda ainda ao desenvolvimento emocional, pois as crianças, ao estarem descansadas, conseguem lidar melhor com as frustrações, relacionar-se melhor com os seus pares e ter maior tolerância ao Outro. Na realidade, este é um aspeto que toca a toda a família, pois se há coisa que a falta de sono afeta verdadeiramente é a harmonia familiar - por isso é tão importante que ensinemos aos nossos filhos bons hábitos de sono desde cedo.
E como o podemos, então, fazer?
* Rotinas
Aquela palavra “chata” que passamos a ouvir depois de sermos pais! Não significa que vivamos num quadrado do qual não saímos. Não significa que os dias terão de ser todos iguais ou que temos de cumprir militarmente horários. Significa que devemos estruturar o dia dos nossos filhos. Assim, as refeições, o horário para acordar e deitar devem ser mais ou menos fixos – o que não quer dizer que não possam existir exceções. Quer dizer que devemos criar um bom ritual para adormecer em vez de tentarmos deitar os nossos filhos a meio de uma brincadeira, por exemplo. As rotinas são como linhas orientadoras, limites ou balizas num dia em que quase tudo pode ser novidade. Os nossos filhos precisam de entender a sequência dos acontecimentos na vida deles para não serem surpreendidos e para aceitarem bem essa estrutura que lhes definimos. Ao final do dia, a rotina é ainda mais essencial, pois normalmente é o melhor momento do dia dos pequenos – quando finalmente estão com o pai e com a mãe. Se os apressamos, se não os preparamos para o sono, será mais difícil que queiram (ou se deixem) relaxar para dormir.
Existem outras técnicas na aromaterapia, como a ingestão, os banhos, a aplicação cutânea e até mesmo a inserção vaginal ou anal, daí ser tão importante que estejamos sempre orientados por um profissional qualificado, pois tal como um químico ou um fármaco, o seu uso depende de um bom diagnóstico. Os óleos essenciais devem ser utilizados sempre com base nos pressupostos de respeito, cuidado e conhecimento! Devemos ainda ter presente que um óleo essencial é um estímulo – ativa o cérebro através do sistema límbico, a unidade responsável pelas nossas emoções e pelos comportamentos sociais.
* Deitar cedo
Desde que haja tempo para estar com os pais, deitar cedo é bastante importante para um sono reparador. Ao contrário do que por vezes se faz – cansar muito o miúdo para que depois durma melhor – se aproveitarmos o relógio solar e os deitarmos no momento em que a melatonina (hormona do sono) começa a dar um empurrão ao nosso corpo, teremos maiores probabilidades de ter um pequenino a adormecer mais facilmente. É importante não deitarmos os nossos filhos exaustos, já demasiado tarde. Quanto mais cansados, mais desregulados estarão e menos tranquilamente conseguirão dormir.
* Autonomia no adormecer
Os bebés sabem dormir e precisam de dormir (e nós também). Conseguir adormecer de forma autónoma – sem ser necessário embalar, enfiar os dedos no nosso nariz, dar a mão, mamar ou ser abanado no carrinho de passeio – é bem mais fácil do que parece e muito necessário para um sono contínuo e reparador. Porquê? Porque se os nossos filhos adormecem com uma determinada “fotografia” e acordam sem ela, é natural que sintam que precisam da mesma ajuda para readormecer. Ninguém está a falar em deixar uma criança a chorar sozinha num quarto, nem a exigir que um bebé de 2 meses consiga adormecer sozinho e dormir 12h. Como em tudo, é preciso mente e coração abertos e bom senso. Mas sim, é perfeitamente expectável que um bebé a partir dos 6 meses consiga adormecer sozinho, sem choro, pacificamente, e dormir grande parte da noite. Por isso, desde que tenham bebés confortáveis e saudáveis, não lhes neguem a cama. Vão tentando ensiná-los, com paciência e amor, estando por perto para os irem ajudando e acalmando se necessário, pois eles são capazes de muito mais do que pensam.
Além das rotinas adequadas à família e à idade, do deitar cedo para aproveitar o empurrão da melatonina e de ensinar os nossos filhos a serem autónomos no processo de adormecer, é também importante considerar outros aspetos no sono das crianças e que, quando não ajustados, podem ter um grande impacto no seu descanso.
* Introdução da Diversificação Alimentar/Sólidos:
O termo “sólidos” é muito vago… na realidade, depois de estabilizada a alimentação, essa introdução poderá ajudar a dormir melhor, mas normalmente não inicialmente. É importante entender que alimentos comem e quantas vezes comem para se perceber se os “sólidos” estão ou não a ajudar a dormir melhor. Apressarmo-nos a empanturrar os nossos filhos com comida nem sempre é o ideal. Quando começam a introdução da diversificação alimentar, o seu sistema digestivo está habituado apenas a digerir leite e por isso pode demorar algum tempo até que se acostumem. Durante a noite, enquanto estamos deitados, o nosso sistema digestivo funciona mais lentamente, daí que o bebé lute um pouco mais para digerir alimentos sólidos de noite do que durante o dia. O que, sim,… pode provocar despertares noturnos!
É, por isso, importante que se comece a introdução dos sólidos à hora do almoço. Assim, os pequeninos têm o resto do dia para fazer a digestão antes de se deitarem durante a noite. A proteína também é bem mais difícil de digerir do que a fruta e vegetais. Daí que, também nos primeiros tempos, deva ser dada idealmente ao almoço. Ao jantar, apostem mais nos vegetais e hidratos de carbono pois o bebé vai ficar mais saciado e com uma barriguinha mais tranquila.
* Luz
Ao contrário do que se “vende”, as luzes de presença são desnecessárias para os pequeninos. Qual é o propósito da luz de presença? Ajudar em caso de medo do escuro… mas os bebés não têm medo do escuro. As mães é que costumam ter! Uma coisa é uma criança a partir dos 3 anos pedir-nos uma luz acesa porque tem medo. E aí, claro que a deixamos! Outra é termos uma luz presente a noite toda para um bebé que não precisa dela. O que a luz de presença faz é dar aos bebés estímulo e distração, fazendo com que seja mais difícil (re)adormecer. Por isso, toca a escurecer o quarto.
* A Última Sesta da tarde
As sestas são essenciais para uma boa noite de sono. Mas o sono diurno desajustado pode sabotar uma boa noite de sono. Principalmente a última sesta da tarde, aquela entre as 17h e as 18h. Normalmente, nos bebés a partir dos 9 meses, esta sesta já desapareceu. A sesta do final da tarde, quando desajustada, pode ser até responsável pelo despertar demasiado cedo de manhã. Obviamente que é necessário conversar sobre cada bebé em particular para entender como se organiza o seu dia , mas em linhas gerais, a última sesta da tarde não deve ser, de todo, a sesta mais longa do dia.
* Saltos de Desenvolvimento
Grandes saltos de desenvolvimento, motores e cognitivos, podem aldrabar o sono dos nossos bebés. É bastante notório aos 4meses e, por exemplo, aos 8, quando o bebé começa a sentar-se, a aprender a gatinhar e até a tentar colocar-se de pé. O cérebro dele está em ebulição e o sono sofre com isso. A boa notícia é que os saltos de desenvolvimento são temporários e normalmente as suas alterações duram cerca de uma semana ou duas. O principal a ter em consideração é manter o nosso comportamento tranquilo e de preferência inalterado enquanto o bebé passa pelas suas próprias mudanças, ajustando ligeiramente – claro está! – sempre que percebermos que o bebé precisa um pouco mais.
Dormir bem é mais fácil do que parece. Nunca mais será o mesmo depois de sermos pais, mas não tem de ser uma luta ou uma guerra. E vale muito a pena investir no descanso deles, pois seguramente teremos uma experiência desta aventura da Maternidade muito mais luminosa e feliz.
Artigo originalmente publicado na primeira edição da Revista De Mãe para Mãe, em outubro de 2019.