Aprender a lidar com as emoções | De Mãe para Mãe

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Aprender a lidar com as emoções

Elizabete NevesElizabete Neves, Coach e Especialista em Inteligência Emocional.


Já alguma vez se perguntou qual o fator que mais influencia o sucesso de uma pessoa na vida adulta? Hoje, sabemos que não é o quociente de inteligência de uma criança que determina o seu sucesso na vida adulta, mas sim a forma como ela é capaz de reconhecer, expressar e gerir as suas emoções e a forma como, empaticamente, se relaciona com os outros.

As emoções são um sistema de alarme, que é ativado quando percecionam alguma mudança ao nosso redor ou no nosso interior. Os pensamentos variam de acordo com as emoções que sentimos e, consequentemente, as emoções variam com os pensamentos que temos – são os “estados emocionais”. A biologia é sábia e estes “alarmes” servem para que, através do nosso sistema nervoso, o nosso corpo dê a melhor resposta, aquela que garante a nossa sobrevivência e satisfaz as nossas necessidades. Neste ponto, podemos afirmar que as emoções determinam o modo como nos relacionamos com nós mesmos e com o mundo.


Para que servem as emoções?

As emoções permitem identificar e comunicar o que está a acontecer a cada momento. A grande questão é que, salvo raras exceções, ninguém nos ensinou a lidar com elas, a senti-las ou a geri-las. Nascemos com elas, fazem parte de nós, mas é como se nos esquecêssemos delas, pelo simples facto de serem invisíveis.

Perante cada situação do nosso dia-a-dia, as emoções trabalham para nos dar a informação que necessitamos para garantir a nossa segurança. Já vos aconteceu, no vosso quotidiano, surgir um aviso no ecrã do computador a informar que um determinado ficheiro é considerado perigoso? O antivírus considera que pode existir algum perigo, mas pergunta-nos o que fazer - “deseja continuar?” –, correto? Ele dá-nos o poder de, conscientemente, ajustar o comportamento à situação. Porém, eu só consigo escolher e fazer a melhor escolha se conhecer a origem do ficheiro, se tiver consciência do que está a acontecer e do que quero que aconteça. O alerta, por si só, não é bom nem é mau, é um alerta, tal como as nossas emoções - não há emoções boas e más, todas têm uma função clara e útil. É verdade que umas criam em nós estados emocionais mais agradáveis e funcionais do que outras, mas o princípio é o mesmo: cabe a cada um de nós escolher passo seguinte.

Posso escolher o que fazer com cada uma das minhas emoções. E este é um princípio absolutamente desafiante e transformador. Desafiante porque coloca a responsabilidade em cada um de nós e transformador porque gera um mundo de oportunidades de crescimento, de autoconhecimento e de adaptações.

Se reunirmos toda esta informação e a aplicarmos no contexto educacional, podemos tornar-nos agentes de mudança e dotar as nossas crianças de ferramentas para a vida. Podemos criar um novo paradigma.


Aprender a lidar com as emoções, Artigo De Mãe Para Mãe


Gestão Emocional

Para um desenvolvimento integral é necessário ajudar a criança a desenvolver a sua inteligência emocional. Conhecer e compreender a emoção proporciona à criança um sentimento de segurança e tranquilidade, garantindo-lhe que o que sente é normal, que tem um nome e que existem formas de lidar com essas situações. Falar sobre emoções é garantir que estamos a contribuir para um mundo mais assertivo, mais empático e mais humanizado, na medida em que promovemos o desenvolvimento de adultos equilibrados, com elevado autoconhecimento, capazes de reconhecer as suas emoções e as dos outros, com recursos para gerir, transformar e criar estados emocionais favoráveis, que os ajudem a atingirem os resultados, os objetivos que ambicionam na vida. Já dizia Aristóteles: “Educar a mente sem educar o coração, não é educar.”

A gestão emocional ainda não é ensinada nas escolas e é, muitas vezes, ignorada no contexto familiar, criando uma lacuna no desenvolvimento da criança, com efeitos evidentes nas atitudes do futuro adulto. Acredito que isto acontece porque nós, agora adultos responsáveis pela educação de uma nova geração, fomos, maioritariamente, educados sem esta componente. Para se ensinar é preciso saber. A boa notícia é que estamos sempre a tempo de aprender.

Quando aprendemos a (re)conhecer as nossas emoções, conquistamos graus de liberdade e controlo sobre elas, o que nos permite regulá-las e geri-las a nosso favor. Quando percebemos que temos recursos para isso, tornamo-nos mais seguros, mais confiantes, com uma autoestima equilibrada, muito mais empáticos e com maior capacidade para nos relacionarmos com os outros.

O mesmo acontece com as crianças e os jovens que desenvolvem maior domínio emocional: apresentam melhores rendimentos escolares, maior capacidade para cuidar de si mesmos e dos outros, maior foco e capacidade de resiliência para ultrapassar os desafios, maior capacidade de pensamento crítico construtivo e menor probabilidade de se envolverem em situações e comportamentos de risco.

A Inteligência Emocional é uma competência e, como todas as competências, pode ser compreendida, treinada e adquirida.


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Como podemos fazer isso?

Na realidade é mais simples do que parece. Quando eu, enquanto adulto, aprendo a identificar as minhas emoções, aprendo a controlar os meus impulsos e passo a agir de modo mais consciente, escolhendo os meus comportamentos para cada situação. Agindo com empatia, estou a ensinar, a trabalhar a inteligência emocional dos meus filhos. Sabemos que a aprendizagem significativa acontece através da observação, pelo que ser emocionalmente inteligente é, também, ser modelo para os nossos filhos, mostrar-lhes como se faz. Este é o primeiro passo: desenvolver a minha inteligência emocional para ensinar através do meu comportamento.

O passo seguinte é chamar as coisas pelos nomes. Reconhecer as emoções dos nossos filhos e dar-lhes um nome é algo que podemos desde que são bebés. Quando falamos com eles e vemos que estão aborrecidos, dizemos: “vejo que estás aborrecido”, “sinto que estás triste”. Ajudamo-los a tomar consciência do que sentem, do que está a acontecer no seu corpo e a dar-lhe um nome. Estamos a desenvolver uma literacia emocional.

Outra componente desafiante e transformadora é a validação da emoção que a criança está a sentir. E validar não significa aceitar comportamentos! Por trás da validação, existe a consciência plena de saber que a criança não é a emoção nem o comportamento que está a ter. A criança não é boa nem má. A criança está a aprender, e o nosso papel é ajudá-la a compreender-se, e a encontrar estratégias funcionais para situações que a incomodam. Por isso é tão importante validar os sentimentos e emoções da criança. Validar é observar e dizer o que vemos, sem julgamento ou crítica. “Percebo que querias mesmo aquele brinquedo. Ficaste triste.” - e permitir à criança chorar, manifestar a emoção que está a sentir. Ao fazermos isto estamos a criar um vínculo com a criança. Estamos a ser empáticos. Estamos a dizer-lhe, sem palavras, “Eu estou aqui. Toma o teu tempo. Eu estou aqui para o que precisares.” Jane Nelsen, impulsionadora da Disciplina Positiva, diz: “conexão antes da correcção”, e é disto que se trata. Validar é estabelecer conexão, para depois podermos analisar e alterar o comportamento. Quando fazemos isto, a criança sente-se escutada, respeitada e aprende a reconhecer as suas emoções e a encontrar estratégias para as gerir.

Na verdade, a educação emocional envolve um longo processo de aprendizagem, mas é um processo belo se o escolhermos fazer a partir da essência, da nossa e da deles. É importante respeitar a sua natureza e aproveitar cada desafio do dia-a-dia como uma oportunidade para praticar, num processo de melhoria contínua, construindo uma visão de nós mesmos e do mundo, mais integral, mais equilibrada, mais feliz.


Artigo originalmente publicado na segunda edição da Revista De Mãe para Mãe, em janeiro de 2020.

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